Patif

“Uhu! Eu sou o novo Leonardo da Vinci! Uhu! Eu sou a nova Lady Gaga!”

O Patife tem andado esquecido. Não vou culpar trabalhos, projetos e botecos. Foi um misto de falta de assunto e de criatividade. E também aprendi com o twitter que você não precisa mais do que 140 caracteres para comentar alguma coisa. O resto é enrola, bloguice, ou – pior! – paulocoelhismo. Mas aconteceu uma coisa engraçada com o blog que queria comentar com vocês.

Há algum tempo, recebi um e-mail de um cara de Portugal. Ele deu de cara com o blog por acaso, googlando para cima e para baixo. Estava desesperado e triste. Procurava uma luz, uma saída, qualquer coisa que o ajudasse a resolver uma pendenga emotiva e financeira. Encontrou essa página. Resolveu o problema. Sou o novo Leonardo da Vinci. Se eu sou o novo Da Vinci, o português só pode ser o meu Dan Brown. Minha obra o ajudou a resolver enigmas, emoções e, de quebra, pode render uns bons trocados. E não precisei de nenhum texto para isso. Inspirei-o apenas com o nome do blog: Um Patife Adorável.

Explico. Há 30 anos, o português iniciou um projeto de ensino de Inglês que levou o nome de IF – Inglês Funcional. Todos conheciam o projeto como IF. Era um projeto voltado para crianças, e ele teve a ideia de criar um personagem para melhorar a comunicação. Criou um pato: grande, cabelo espetado, desastrado. Faltava o nome. Como era o pato do IF, ficou Patif. Mostrou-se um sucesso. Um grande sucesso. O português pegou amor pelo pato. Amor de pai, como ele mesmo me descreveu.

O problema: o pato ganhou o mundo e surgiu a oportunidade do projeto ser lançado por aqui, no Brasil. Só que os brasileiros envolvidos alertaram o português (que não se chama nem Manoel e nem Joaquim e, sim, Agostinho) que o nome Patif seria impossível de usar por essas bandas, porque de modo algum poderia ser associado ao mundo infantil. Mesmo sem “e” no final? Sim. Disseram que não tinha jeito mesmo e que, no Brasil, patife é patife mesmo. E aconselharam-no a mudar para Patito. Claro que uma ideia assim só poderia partir de professores de Magistério que participam de semanas pedagógicas, com infinitas dinâmicas e poemas de Paulo Freire.

Agostinho ficou desolado. Mais do que o pato, ele adorava o nome. Sem contar na enorme despesa que uma mudança assim acarretaria. Mandou-me um e-mail enorme. Comentou que leu todos os meus textos (achou realmente adorável e elogiou muito), e pedia um conselho: ele deveria insistir em lançar o pato com o nome “Patif” e arriscar que o carisma do personagem ofuscaria o nome ou seria melhor mudar tudo para evitar um fiasco? Não respondo e-mails, mas esse eu fiz uma questão enorme de responder. Peguei amor pelo pato também (não posso publicar, mas ele me mandou um vídeo em que o Patif flerta com uma loira linda e – acreditem! – eu vi algo de Vadinho, do Jorge Amado, nele). Contei para o português a prosa ruim que estava rolando no momento: um deputado que queria proibir o filme TED, porque tinha um urso de pelúcia fumando. Expliquei que é normal os brasileiros criarem certa resistência ao nome, por conta de um terceiromundismo enraizado e cansado. E, claro, defendi para sempre Patif. Patif tem nome de pato inteligente, esperto, de sorriso fácil, divertido, piadista, moleque, inquieto. Patito é a cara do abestalhado, pateta, tabaréu, bocó. Patif é Saramago. Patito é Cora Coralina. Se o Patif tem algo que lembra Vadinho, o Patito teria algo de Marcos Frota vestido de palhaço.

Ontem chegou mais um e-mail do Agostinho, contando sua decisão. Ficou Patif e Patif sempre será, “em Portugal, no Brasil, na África ou no Japão”. Disse que acredita que todo mundo tem um pouco do Patif dentro de si, e quem conseguir admitir essa alma de patife vai adorar o pato. A vitória de Patif em cima de Patito faz a gente acreditar que o mundo ainda tem salvação. Estou realmente comemorando. Sou a nova Lady Gaga. Se eu sou a nova Gaga, o Patif só pode ser o meu Obama. A cantora usou seu twitter para comemorar a vitória do presidente democrata. Eu? Ressuscitei meu blog com a incrível história (e vitória) de um adorável pato chamado Patif.

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Um pensamento sobre “Patif

  1. Sheila Bugiato disse:

    sou fã desse blog, parabéns mais uma vez por ele!

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